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Caetano Veloso




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Caetano Veloso Album


Livro (1997)
1997
1.
2.
3.
4.
Manhata (For Lulu Santos)
5.
6.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
Na Baixa do Sapateiro
14.
. . .


Vem,
Eu vou pousar a mão no teu quadril
Multiplicar-te os pés por muitos mil
Fita o céu,
Roda:
A dor
Define nossa vida toda
Mas estes passos lançam moda
E dirão ao mundo por onde ir.
Ás vezes tu te voltas para mim
Na dança, sem te dares conta enfim
Que também
Amas
Mas, ah!
Somos apenas dois mulatos
Fazendo poses nos retratos
Que a luz imprimiu de nós.

Se desbotássemos, outros revelar-nos-íamos no Carnaval.
Roubemo-nos ao deus Tempo e nos demos de graça "a beleza total, vem.

Nós,
Cartão Postal com touros em Madri,
O Corcovado e o Redentor daqui,
Salvador,
Roma
Amor,
Onde quer que estejamos juntos
Multiplicar-se-ão assuntos de mãos e pés
E desvãos do ser.

. . .


Tropeçavas nos astros desastrada
Quase não tínhamos livros em casa
E a cidade não tinha livraria
Mas os livros que em nossa vida entraram
São como a radiação de um corpo negro
Apontando pra a expansão do Universo
Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso
(E, sem dúvida, sobretudo o verso)
É o que pode lançar mundos no mundo

Tropeçavas nos astros desastrada
Sem saber que a ventura e a desventura
Dessa estrada que vai do nada ao nada
São livros e o luar contra a cultura

Os livros são objetos transcendentes
Mas podemos amá-los do amor táctil
Que votamos aos maços de cigarro
Domá-los, cultivá-los em aquários
Em estantes, gaiolas, em fogueiras
Ou lançá-los pra fora das janelas
(Talvez isso nos livre de lançarmo-nos)
Ou ­o que é muito pior por odiarmo-los
Podemos simplesmente escrever um:

Encher de vãs palavras muitas páginas
E de mais confusão as prateleiras
Tropeçavas nos astros desastrada
Mas pra mim foste a estrela entre as estrelas

. . .


A Bahia,
Estação primeira do Brasil
Ao ver a Mangueira nela inteira se viu,
Exibiu-se sua face verdadeira.
Que alegria
Não ter sido em vão que ela expediu
As Ciatas pra trazerem o samba pra o Rio
(Pois o mito surgiu dessa maneira).
E agora estamos aqui
Do outro lado do espelho
Com o coração na mão
Pensando em Jamelão no Rio Vermelho
Todo ano, todo ano
Na festa de Iemanjá
Presente no dois de fevereiro
Nós aqui e ele lá
Isso é a confirmação de que a Mangueira
É onde o Rio é mais baiano.

. . .


Uma canoa canoa
Varando a manhã de norte a sul
Deusa da lenda na proa
Levanta uma tocha na mão
Todos os homens do mundo
Voltaram seus olhos naquela direção
Sente-se o gosto do vento
Cantando nos vidros nome doce da cunhã:

Manhattan, Manhattan
Manhattan, Manhattan

Um remoinho de dinheiro
Varre o mundo inteiro, um leve leviatã
E aqui dançam guerras no meio
Da paz das moradas de amor

Ah! Pra onde vai, quando for
Essa imensa alegria, toda essa exaltação
Ah! Solidão, multidão
Que menina bonita mordendo a polpa da maçã:

Manhattan, Manhattan
Manhattan, Manhattan

. . .


Lira Paulistana
Música doideca
Funk carioca
Londresselvas em flor
Jorjão Viradouro
Arnaldo Olodum Titã
Funk carioca
Arrigo Tom Zé Miguel
Lucas Valdemente
Chelpa Ferro Mangue bit beat
Carioca Lira Paulistana

Gay Chicago negro alemão
Bossa nova
Gay Chicago negro alemão
Timbalada
Gay Chicago negro alemão
Viradouro
Gay Chicago negro alemão
Axé Music
Gay Chicago negro alemão

Lira Paulistana
Música doideca
Funk carioca
Lodresselvas em flor

Banda feminina da Didá Didá de
Banda feminina da Didá

Banda tropicália de Tom Zé Tomzé de
Banda tropicália de Tomzé Tomzé de
Banda

Didá Didá Didá de
Banda

Banda

Chicago negro alemão bossa nova
Chicago negro alemão

. . .


Desde o tempo em que você andava
Com quem não conhece o seu segredo
Que, sem pensar, brinco de repetir:
Você é minha
Minha e não desse aí

Mas naquele tempo eu não sabia
Que isso é que dissiparia a treva
Em que o amor lançou meu coração
Você é minha
Ninguém se atreva
Porque nós dois somos um time campeão

Você comanda
Eu sigo e protesto
Mas vamos aonde ninguém vai
Amplo se expanda
O alcance do gesto:
Por terra essa tenda não cai
Você me ensina
E eu finjo que aprendo
Os truques da grana e do amor
Ouve os batuques
Mas muito se engana
Quem crê que está lendo ou que adivinha

Hoje que você é a rainha
Do meu velho e vasto estranho reino
Faço ecoar
Nos pontos cardeais:
Você é minha
Minha e de ninguém mais

Eu próprio só aos poucos desfaço
As redes de enigma desse laço
Dentro de nós
E a minha voz rediz:
Você é minha

. . .


Um tom pra cantar
Um tom pra falar
Um tom pra viver
Um tom para a cor
Um tom para o som
Um tom para o ser

Ah como é bom dormir
Ah como é bom despertar
O céu é mais aqui
Um tom é um bom lugar

Tanta coisa que cabe
Tanta pode caber
Canta e pode fazer cantar
Nova felicidade
Novo tudo de bom
Deixa-se cantar um tom

Um tom pra gritar
Um tom pra calar
Um tom pra dizer
Um tom para a voz
Um tom para mim
Um tom pra você
Um tom para todos nós

. . .


||: How beautyful could a being be :||

. . .


'Stamos em pleno mar

Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho
– Em sangue a se banhar
Tinir de ferros... estalar do açoite...
Legiões de homens negros como a noite
– Horrendos a dançar...

Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
– Rega o sangue das mães:
Outras, moças... mas nuas, espantadas
No turbilhão de espectros arrastadas
– Em ânsia e mágoa vãs

E ri-se a orquestra, irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Se o velho arqueja... se no chão resvala
Ouvem-se gritos... o chicote estala
E voam mais e mais...
Presa dos elos de uma só cadeia
A multidão faminta cambaleia
E chora e dança ali!

Um de raiva delira, outro enlouquece...
Outro, que de martírios embrutece
Cantando, geme e ri!

No entanto o capitão manda a manobra
E após, fitando o céu que se desdobra
Tão puro sobre o mar

Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
„Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!...“

E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais!
Qual num sonho dantesco as sombras voam...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanaz!...

Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus...
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noite! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!...

Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são?... Se a estrela se cala
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa musa
Musa libérrima, audaz!

São os filhos do deserto
Onde a terra esposa a luz
Onde voa em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão...
Homens simples, fortes, bravos...
Hoje míseros escravos
Sem ar, sem luz, sem razão...

São mulheres desgraçadas
Como Agar o foi também
Que sedentas, alquebradas
De longe... bem longe vêm...
Trazendo com tíbios passos
Filhos e algemas nos braços
N'alma lágrimas e fel
Como Agar sofrendo tanto
Que nem o leite do pranto
Têm que dar para Ismael...

Lá nas areias infindas
Das palmeiras no país
Nasceram crianças lindas
Viveram moças gentis...
Passa um dia a caravana
Quando a virgem na cabana
Cisma das noites nos véus...
...Adeus! ó choça do monte!...
...Adeus! palmeiras da fonte!...
...Adeus! amores... adeus!...

Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se eu deliro... ou se é verdade
Tanto horror perante os céus...
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?
Astros! noite! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!...

E existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta
Que impudente na gávea tripudia?!...
Silêncio!... Musa! chora, chora tanto
Que o pavilhão se lave no seu pranto...

Auriverde pendão de minha terra
Que a brisa do Brasil beija e balança
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu, que da liberdade após a guerra
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha
Que servires a um povo de mortalha!...

Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu na vaga
Como um íris no pélago profundo!...
...Mas é infâmia demais... da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo...
Andrada! Arranca este pendão dos ares!
Colombo! Fecha a porta de teus mares!

. . .


Me larga, não enche
Você não entende nada, eu não vou te fazer entender
Me encara de frente
É que você nunca quis ver, não vai querer, não quer ver
Meu lado, meu jeito
O que eu herdei de minha gente, nunca posso perder
Me larga, não enche
Me deixa viver
Me deixa viver
Me deixa viver
Me deixa viver

Cuidado, oxente!
Está no meu querer poder fazer você desabar
Do salto, Nem tente
Manter as coisas como estão porque não dá, não vai dar
Quadrada, demente
A melodia do meu samba põe você no lugar
Me larga, não enche
Me deixa cantar
Me deixa cantar
Me deixa cantar
Me deixa cantar

Eu vou clarificar a minha voz
Gritando: nada mais de nós!
Mando meu bando anunciar
Vou me livrar de você

Harpia, aranha
Sabedoria de rapina e de enredar, de enredar
Perua, piranha
Minha energia é que mantém você suspensa no ar
Pra rua!, se manda
Sai do meu sangue, sanguessuga, que só sabe sugar
Pirata, malandra
Me deixa gozar
Me deixa gozar
Me deixa gozar
Me deixa gozar

Vagaba, vampira
O velho esquema desmorona desta vez pra valer
Tarada, mesquinha
Pensa que é a dona, eu lhe pergunto: quem lhe deu tanto axé?
À toa, vadia
Começa uma outra história aqui na luz deste dia D
Na boa, na minha
Eu vou viver dez
Eu vou viver cem
Eu vou viver mil
Eu vou viver sem você

Vagaba, vampira
O velho esquema desmorona desta vez pra valer
Tarada, mesquinha
Pensa que é a dona, eu lhe pergunto: quem lhe deu tanto axé?
À toa, vadia
Começa uma outra história aqui na luz deste dia D
Na boa, na minha
Eu vou viver dez
Eu vou viver cem
Eu vou viver mil
Eu vou viver sem você, eu vou viver sem você
Na luz desse dia D
Eu vou viver sem você

. . .


Minha voz, minha vida
Meu segredo e minha revelação
Minha luz escondida
Minha bússola e minha desorientação
Se o amor escraviza
Mas é a única libertação
Minha voz é precisa
Vida que não é menos minha que da canção

Por ser feliz, por sofrer
Por esperar, eu canto
Pra ser feliz, pra sofrer
Para esperar eu canto

Meu amor, acredite
Que se pode crescer assim pra nós
Uma flor sem limite
É somente por que eu trago a vida aqui na voz

Minha voz, minha vida
Meu segredo e minha revelação
Minha luz escondida
Minha bússola e minha desorientação
Se o amor escraviza
Mas é a única libertação
Minha voz é precisa
Vida que não é menos minha que da canção

Por ser feliz, por sofrer
Por esperar, eu canto
Pra ser feliz, pra sofrer
Para esperar eu canto
Meu amor, acredite

Que se pode crescer assim pra nós
Uma flor sem limite
É somente por que eu trago a vida aqui na voz

. . .


Ele nasceu no mês do leão, sua mãe uma bacante
E o rei seu pai, um conquistador tão valente
Que o príncipe adolescente pensou que já nada restaria
Pra, se ele chegasse a rei, conquistar por si só.
Mas muito cedo ele se revelou um menino extraordinário:
O corpo de bronze, os olhos cor de chuva e os cabelos cor de sol.

Alexandre,
refrão
De Olímpia e Felipe o menino nasceu, mas ele aprendeu | 2x

Que o seu pai o raio que veio do céu

Ele escolheu seu cavalo Por parecer indomável
E pôs-lhe o nome Bucéfalo ao domina-lo
Para júbilo, espanto e escândalo do seu próprio pai

Que contratou para seu perceptor um sábio de Estagira
Cuja a cabeça sustenta ainda hoje o Ocidente
O nome Aristóteles - nome Aristóteles - se repetiria
Desde esses tempos até nossos tempos e além.
Ele ensinou o jovem Alexandre a sentir filosofia
Pra que mais que forte e valente chegasse ele a ser sábio também.
refrão

Ainda criança ele surpreendeu importantes visitantes
Vindos como embaixadores do Império da Pérsia
Pois os recebeu, na ausência de Felipe, com gestos elegantes
De que o rei, seu próprio pai, não seria capaz.
Em breve estaria ao lado de Felipe no campo de batalha
E assinalaria seu nome na história entre os grandes generais.
refrão

Com Hefestião, seu amado
Seu bem na paz e na guerra,
Correu em honrra de Pátroclo
- os dois corpos nus -
Junto ao túmulo de Aquiles,o héroi enamorado, o amor

Na grande batalha de Queronéia, Alexandre destruía
A esquadra Sagrada de Tebas, chamada e Invencível.
Aos dezesseis anos, só dezesseis anos, assim já exibia
Toda a amplidão da luz do seu gênio militar.
Olímpia incitava o menino dourado a afirma-se
Se Felipe deixava a família da mãe de outro filho dos seus seinsinuar.
refrão

Feito rei aos vinte anos
Transformou a Macedônia,
Que era um reino periférico, dito bárbaro
Em esteio do helenismo e dois gregos, seu futuro, seu sol

O grande Alexandre, o Grande, Alexandre
Conquistou o Egito e a Pérsia
Fundou cidades , cortou o nó górdio, foi grande;
Se embriagou de poder, alto e fundo, fundando o nosso mundo,
Foi generoso e malvado, magnânimo e cruel;
Casou com uma persa, misturando raças, mudou-nos terra, céu emar,
Morreu muito moço, mas antes impôs-se do Punjab a Gilbraltar.

. . .

Na Baixa do Sapateiro

[No lyrics]

. . .


Nana cantando "nesse mesmo lugar"
Tim maia cantando "arrastão"
Bethânia cantando "a primeira manhã"
Djavan cantando "drão"
Chico cantando "exaltação à mangueira"
Paulinho, "sonho de um carnaval"
Gal cantando "candeias"
E elis, "como nossos pais"
Elba cantando "de volta pra o aconchego"
Sílvio cantando "mulher"
E elisete cantando "chega de mágoa"
Carmen cantando "adeus batucada"
Gilberto cantando "sobre todas as coisas"
Cauby cantando "camarim"
Orlando cantando "faixa de cetim"
Milton, "o que será?"
Roberto, "a madrasta"
Bosco, "rio de janeiro"
E dalva, "poeira do chão":

Melhor do que isso só mesmo o silêncio
E melhor do que o silêncio só joão

Nara cantando "diz que fui por aí"
Marisa, "a menina dança"
Aracy cantando "a camisa amarela"
Amélia, "boêmio"
Max, "polícia"
Nora, "menino grande"
Dolores, "não se avexe não":

Melhor do que isso só mesmo o silêncio
Melhor do que o silêncio só joão

. . .


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